quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Amar juntos e livres

Hoje é assim. Temos este paradoxo. Queremos amor, amor fiel, pedimos à outra pessoa para abdicar das suas coisas e se juntar a nós, incondicionalmente. Amamos muito e queremos ser amados com a mesma reciprocidade. Mas, como uma parte mais esperta, mantenho cativa a minha liberdade. Quero pedir ao outro o seu amor incondicional mas, o ideal é eu manter a minha liberdade o mais intacta possível. Não abdicar de fazer as mesmas coisas que fazia, continuar com os meus amigos, com os meus hábitos.
Ah, bom!!!!Pois é! E se o outro pensar da mesma forma.....divórcio.

Depois, temos que amar o nosso corpo e fazer dele o que bem queremos. Mas, se outros não o amarem, é o vazio.

Ainda há que gostar de nós próprios, profundamente, sem precisar da apreciação dos outros para ser feliz.
Ora, não preciso dos outros para gostar de mim e ser feliz.
Então, os outros também não precisam.
Ora bolas. Então, lá vem o vazio outra vez.

Pois eu já tive a minha liberdade, desde o dia em que me separei. Sempre abdiquei dos meus hábitos para a família. Só dois deles não foram totalmente eliminados. A psicanálise, e, precisar de um café de manhã.
Já me dedico- desde que me separei e pelo meio quando vivi 3,5 anos junta com o meu marido, mas sem sermos marido e mulher- de alma e coração às coisas das quais gosto profundamente.

Mas, continuo ainda a gostar mais das pessoas. E do amor. Quando amo, abandono sim , os meus hábitos, deixo sim, os meus amigos um pouco mais de lado, sim, falo menos com a minha família e sim, tento estar o mais possivel com o meu amor. Só assim faz sentido sentir a felicidade do amor. A liberdade, saboreia-se quando estamos sózinhos, nem que seja por algumas horas. Como agora, quando escrevo, algo de que gosto de fazer profundamente.

As minhas filhas no entanto, ocupam um lugar no meu coração muito especial, que o incha, contrai, aquece, arrefece, e, deste modo tornam o meu corpo e a minha mente saudáveis. Vivos.
Atentos para os outros. E para mim. Porque quero estar aqui. Viva.

Gosto tanto de viver, que poucas pessoas sabem disto. Quando era ainda jovem, mas adulta, já me quis matar, já muitas vezes quis morrer, mas sempre quis mais viver, lutar para viver e, mais que isso, ser feliz. Claro que quando revejo isto nos outros, toda me comovo e me chego a eles. É como um elo. Nesses momentos sinto o que pode ser uma alma gémea.
Os gémeos. Amam e são livres juntos.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Os hábitos

A pessoa apaixonada encara uma vida nova, quer renovar-se a si mesma e o mundo, está disposta a mudar e pede ao amado que faça a mesma coisa. E, normalmente, o amor acaba, quando voltam a aparecer os velhos hábitos que, na fusão entusiástica do enamoramento, pareciam ter desaparecido.

Todos os que tiveram que enfrentar uma mudança tão profunda por necessidade, por amor, por um ideal, conseguiram o seu objectivo com um trabalho paciente, dia após dia, dominando os seus próprios hábitos, e minuto a minuto, como um actor em palco, como uma bailarina que molda o seu corpo na dança.

Se se tivessem abandonado à pura "espontâneidade" teriam ido por água abaixo.
Podemos ser sugados pelos nossos hábitos, e, para avançarmos mais, para vermos o mundo com a frescura de uma criança, temos que estar prontos a combatê-los, com absoluta determinação.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O ninho

Lá em casa tudo normal. É tão bom.
Esta sensação de paz e alegria.

Um cortinado está passado a ferro. A outra metade não está.

Cada vez mais adoramos o gato. Até à Susana já apanhei a desfazer-se em adjectivos com ele.
Ao gato os dentes caem-lhe no chão. Parecem um dente tipo tubarão assim em triângulo com um vértice para cima. Depois tem três pernas. Ou pernes.
Tadito.
A casa cheira bem , a casa do gato foi posta na varanda. A varanda é que está diferente . O gato tira um pedaço de terra dos canteiros e guarda os seus "tesouros" em montinhos.

A refeição tabulante é uma constante ao jantar. Ás vezes tento coisas como arroz de alho francês. Come-se bem, mas as milhas filhas olham para mim com atenção não esteja eu já xéxé e elas não tenham reparado.
No fim dizem que eu cozinho muito bem, não vá ficarem sem ninguém para lhes fazer as refeições. Criança sofre...

As três descalças : eu a limpar a cozinha, a mais nova pergunta por tendões, a mais velha pergunta à queima roupa - A é equiprovável com B, C tem metade da probabilidade de A. Quanto é A, B e C? Bom, filha, nada como um sistema de equações. Tens é que usar uma equação que some todos. "AHHH! já sei". O que vale é que ela é muito inteligente.

Já à Mádá tenho que dizer com muito tacto que não temos rétulas nos joelhos, nem extremos entre as costelas. Lá a sentei e fiz estudar a ficha. "Nunca pensei que conseguisse decorar isto tudo".

Mas à noitinha depois de retirar meticulosamente o buço à Susana ( melhor que a depiladora, porque eu uso óculos e por isso vejo bem), ficámos boquiabertas a olhar a toalha que a Madalena trazia enrolada à cabeça.

Depois de aplicado o Stop-Piolhos feito de dimeticona, passada uma hora era vê-los, mortos, asfixiados.
É verdade. Pela primeira vez, não os vi, vivos, a saltarem, atordoados, mas sim mortos!!!!
Olhámos radiantes. Que excelente remédio. Qual será o efeito secundário?

E deitámo-nos cedo, eu a espreitar a minha conta a ver qd subia dos 200 euros ( hoje já subiu :-)), a Madalena estafada da natação e a Susana muito feliz, muito contente, apaixonada.

A casa adormeceu repousada.

Et la vie continue

Sempre disse que não era inteligente. E é verdade. Sou muito de intuições, percepcções e afectos mas sou extremanente racional em assuntos que considero vitais, como a integridade física e moral das minhas filhas e, a respectiva felicidade.
Quanto a mim, levo algum tempo a entender porque não estou satisfeita, mas quero muito estar satisfeita e, depois, ponho-me a fazer o pino a pensar porquê, se é por ser gorda ou feia, ou mole, ou ter óculos, ou não gostarem de mim, e, só mais tarde admito que o problema pode não estar em mim. Como foi o meu caso de um ano, em que vivi apaixonada, vivi para a outra pessoa e, só mais tarde me apercebi quão sádica era aquela paixão. Depois, infelizmente, tudo se fez luz. Mas isso só acontece quando saímos da clandestinidade. Que era o caso em que eu estava.
Por exemplo as minhas filhas. Conhecê-las e estar com elas era chato e compromisso e, não lhes ia fazer bem. Eu deixá-las, não estava certo. A mãe dele não acharia bem.
E lá ia eu , confiante e a confiar, para um sítio que difícilmente se pode chamar casa, ou , um lugar limpo e digno para uma pessoa. Parecia o castigo. Ele estava de castigo. Portou-se mal. Ou então. Vou para aqui amuado. Aqui ninguém há-de querer entrar. Ou. Vejam o meu sacrifício. Eu via. Mas acho que MAIS NINGUÉM via. Ou. Talvez. Alguém é capaz de me vir buscar?

O que eu digo é, amem quem realmente gosta de vocês. Não é gostar como os drogados gostam. Estão ali , sorriem e falam connosco, mas estão nas tintas para o facto de sermos nós. Podia ser outra pessoa qualquer. São completamente desapegados. E, se ajudar quando é precisa, melhor.