quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Chorar muito , chorar muito até lavar o desgosto

Mas porque raio morreste Vitor?
Onde estás? Eu preciso de ti.
A minha mãe vai ficar cega, o meu pai vai morrer, porque já noto que se cansa muito.
Quem fica para gostar de mim?
Com as minhas fraquezas, com os meus defeitos, tão irritante que eu sou. O meu cabelo de bruxa, os meus óculos de velha.
Porque com as minhas forças todos querem ficar.
As minhas filhas, essas não quero que me vejam soçobrar.
A minha amiga Ana tem uma doença degenerativa. Vou-me apoiar nela? Ela tem os pais, os filhos, a carreira, e, o amor, que aproveita enquanto dura.
Estive a ver fotos nossas. Tu. Sempre activo. Sentávamo-nos quase sempre juntos.
Eras o meu irmão. Ríamo-nos sempre. E eu podia discutir contigo. De ti aceitava um não , uma discordância.
Depois da raiva que te tive, quanto te mataste, veio agora uma tristeza enorme, quando me imagino no teu lugar e imagino o teu sofrimento, o teu desespero.

Hoje percebo que não são os defeitos de uma pessoa que nos levam a afastar dela. Isso nunca é razão. É o carácter delas. A integridade.

Também percebo que existem pessoas muito bondosas e altruístas para os de "fora". Os pobres, os doentes, os sem abrigo. Mas, para os próximos, para aquelas que são mesmo da sua responsabilidade, são desapegados, distantes, esperam impacientes que se desenrasquem, dão os bens materiais até para além do necessário.

Eu sei. Porque também já caí nessa tentação. Do ego. Da irresponsabilidade. Ou da não responsabilidade. Esse fardo. Há muitos anos. Depois percebi, que é com os nossos que temos responsabilidades e é primeiro para eles e com eles, que devemos dar e receber amor. Nunca esquecer primeiro eles. Mesmo que isso nos fruste muitas vezes. A frustação, veio a experiência ensinar-me, nunca é em vão. Quando menos se espera, há uma sinal que nos enche de alegria, de esperança, de fé. Nas pessoas. E no amor.

Vitor, vou ouvir a Nina Hagen. Ela é um bocadinho de ti.

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