domingo, 22 de abril de 2012

As festas dos miúdos

Não gosto das festas de anos que são das 16h às 18.30h.
Parecem-me obrigações sociais ou mais assertivamente obrigações filiais , chatas, mas que, caso não ocorram podem ser denunciadas pelos filhos.
Lembro-me perfeitamente de não ter aquelas festas, que nem me lembro a que horas entrava e a que horas saía,  que rebuscávamos as casas todas, ficávamos a conhecer todos os esconderijos, nem ligávamos muito à comida, tal era a excitação.
Os bolos eram quase sempre feitos em casa.
Lembro-me de as salas estarem sempre è meia luz, e às vezes via o pai ou a mãe ou ambos sentados sózinhos, à espera que tudo acabasse ou ainda a receberem a família.
Havia muitos quintais e jardins, isso é verdade. Havia pracetas  sem carros. Jogava-se às escondidas, ao lenço, ao mata com o ringue e às vezes um pai extraordinário punha um filme da infância da criança e todos de boca aberta , olhávamos sem perceber, pois se não estávamos numa sala de cinema. Punham as fotos a mexer?
Os presentes eram preciosos, livros que nunca tínhamos visto, ou ouvido falar, perfumes bien être, que se compravam na drogaria , nem me lembro. E havia música, um gira discos, e muita vergonha em dançar à frente dos pais.
Havia um rapaz que caía e tinha que ir para casa, um que deixava cair uma pedra em cima do pé, outra que tirava a peruca à mãe para que todos ríssemos. Eram os anos 60 e 70, não havia guerra, nem pobreza, mas aconteciam já tristes histórias, em muitos lares , histórias que só entendemos passados 30 anos, histórias que só ouvimos e percebemos o alcance da tragédia, passado tanto tempo, ouvidas algumas em 1ª mão.
Histórias que, se eu tivesse percebido ou sequer sabido , ou querer saber, me poderiam ter ajudado muito.
Isto faz-me lembrar a anorexia.
Tenho uma desconfiança muito grande.
É certo que há a publicidade.
É verdade.
Mas lembro-me de ter usado anos e anos a fio camisolas a tapar o rabo porque a minha mãe um dia me disse, "tens um rabo tão grande filha". Isso não me fez anorética. Fez-me ser outra coisa. Mas podia.
E então pergunto-me se hoje, tal como antigamente, as mães gordinhas, frustadas, já sem formas definidas não atiram umas boquinhas soft deste género , constantemente, e do tipo " come isso, come, depois não te queixes!" e, será este o melhor momento de atenção, de importância, que deram àquele filho?
A mãe ou o pai.

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