quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Sr Anibal

Quando o vi ontem deitado para sempre não me contive. Tudo o que tinha contido saiu. Eu não queria mas senti a sua perda como um pai. Foram muitos anos de convívio, de algumas cumplicidades e, de ajuda a criar as minhas filhas. Sempre o vi a ajudar-me no funeral dos meus pais, nunca pensei que fosse primeiro.
Muita gente me critica, agora não , talvez mais tarde, mas, perante a morte, muitas coisas acontecem de que não estávamos à espera. Não estava à espera de sentir tanto a sua perda. Não estava à espera que a Susana não reagisse. Que as minhas filhas não soubessem o que dizer ao pai. Que não tenham, sentido necessidade de falar com ele. Nunca pensei que a única pessoa com quem pude chorar foi a minha filha Madalena, que percebeu o quanto estou abalada. Nunca pensei que fosse a minha cunhada Cristina a perguntar como é que eu estava e se precisava de ajuda.
A minha filha Susana penso que sentiu que toda "aquela gente que iria ao funeral" não tinha nada a ver com ela e com o Avô. Como se não percebesse que ele tinha vida social para além dela. Ela sofre e, não sabendo ajudar o pai, também não percebe porque o pai não lhe disse umas palavras de aconchego.
Eu desde cedo as preveni, lhes disse que era dar mimos ao Avô , pois mais nada haveria a fazer.
Mas foi muito depressa . Muito rápido. Morreu muito novo. E morreu mal, como se na doença também precisássemos de ter sorte.
E a minha colega Cristina disse , tens direito a dias de luto, e de facto sinto-me de luto. Mas nem tenho a desculpa de a minha filha mais velha ir ao funeral. E sei que o Carlos não gostaria de me ver. E o pai é dele.
Peço desculpa. Não é por ter medo. Mas também não é por me querer mostrar à família.
Bastou-me tê-lo visto tombado. Vou ajudar a avó das minhas filhas. Visitá-la mais.

Não me apetece nada.

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