quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A guerra no Ultramar

Foi no fim de semana que tive que pousar o tabuleiro da comida , enroscar-me e no puff e já estava tão agoniada que tive que mudar de canal. Estavam a dar filmagens da guerra em Angola. Quase à nossa frente e quase em simultâneo os homens eram abatidos mas , mais frequentemente rebentados com minas. Os estilhaços deixaram-nos cegos, a outros incapacitados , a outros deficientes mentais. Outros viu-se práticamente em directo a ficarem sem pernas e braços, a berrarem e a pedirem para os matarem ali já, porque não queriam regressar assim para a família. E lá faziam uma pequenissíma tenda no meio do mato com um oleado em cima dos ramos de uma arbusto, enquanto os que estavam bem, salpicados de sangue cerravam a boca de raiva e medo e tinham que ouvir , presenciar o sofrimento do colega ali debaixo da tendinha. Depois davam depoimentos de homens que tinham combatido na guerra. Alguns, hoje, ainda choravam a recordar.
E eu lembrei-me de como ia crescendo com medo de perder o meu irmão, que o meu pai já estava safo, falava-se em ele ir para França, a minha mãe disse-lhe para se dar como objector de consciência pois não tinham dinheiro e, parece que seria isso que ia prevalecer. Um primo, o Vitor, um homem lindo, tinha perdido uma perna e um olho. Lembro-me vagamente quando ainda não fora de perigo tinha chegado de helicóptero ao hospital militar em Lisboa.
No Natal, eu não despegava da televisão a ver todos aqueles rapazes a dizerem uma mensagem às famílias. Não percebia bem aquele dramatismo mas ao chegar aos 12 anos, comecei a perceber que aquilo era a sério, mas não sabia mais nada.
Até que se deu o 25 de Abril.
Digam o que disserem do 25 de Abril, foi de facto uma das melhores coisas que aconteceu em Portugal.

Meu rico filho, criado para morrer, para matar, para sobreviver com aquelas lembranças.

Sem comentários:

Enviar um comentário