A Susana para a semana faz dezassete anos. Está numa fase louca, gira, aluciante, delirante, de amores grandes, de pura sensualidade e sexualidade. De afirmação. De identidade. E de procura. Essa ainda a tenho eu. E as outras também um bocadinho. Isto é viver bem. As coisas boas da infância e adolescência não têm que acabar completamente.
Bom, mas o que me surpreendeu foi o que ela me disse, de um sopro, com uma voz firme e forte, algo aguda, depois de eu dizer:
- "Filha eu não gosto do António. Sei que sofreste verdadeiramete por ele, e já sabes como são esses namoros com distância física. Não são viáveis. Tens que procurar um rapaz que tenha uma relação contigo que seja viável!"
Tinha sido esta a minha última lição e conclusão da vida. E veio ela e abalou tudo :
- "Não quero saber disso para nada. Se tu gostas dele , ou não. E não gosto que fales do António. O que eu sei é que o amo , ele também, e apesar de termos outros namorados , ainda nos amamos e assim vai ser por muito tempo".
Ficou um silêncio grande no carro. Até as amigas se calaram.
Senti tanto orgulho dela. Tanto. Mas tanto.
Também senti do 19,6 a Matemática, do 18,5 a Inglês do 16, 6 a Biologia , do 18 a Filosofia, do 17,8 a Físico Químicas. Não tanto da desarrumação, do barulho, da falta de delicadeza com que me trata, do falar alto a protestar. Mas, mesmo nessas alturas a adoro.Embora seja firme , muitas vezes e a obrigue a obedecer.
Mas, o que me faz ficar cheia de amor e , com uma vontade de lutar e viver para que a possa sempre ajudar a ser mais feliz e a disfrutar do amor que temos de mãe e filha, é este carácter dela, esta personalidae, esta adultez. Esta fé no amor.
Concordo contigo filha.
Eu também não me descarto de quem amo, apesar de se ouvir hoje dizer, tem que se ir para a frente, ser positiva , o que passou passou. Eu não consigo perceber esse método da esponja. Com quem nunca gostámos, é fácil. Agora, com quem gostámos, acho impossível.
Podemos , claro, ser felizes e viver bem na mesma, sem a respectiva presença física.
Mas continuando a amar.
sábado, 20 de março de 2010
quarta-feira, 3 de março de 2010
Posso?
Ontem tive uma conversa interessantíssima com Susana, na qual me pedia para pôr um piercing na língua. O problema da psicanálise é que percebi logo o porquê da conversa. Continuo a acreditar no Freud e, no Júlio Machado Vaz. Nunca utilizo a psicanálise de uma forma manipulativa. Mas desta vez utilizei. Estava com muiiiiito sono.
A Madalena, a mais nova também ainda me deu um "chá" de boas maneiras. "Ó mãe tu dizes obrigada ou obrigado?. "
_"Acho que se deve dizer obrigada se se for mulher mas eu uso os dois conforme me sai."
-"Ai, eu para os amigos é thank's".
Depois disto, ralada, porque o meu gato está doente e não lhe vejo melhoras, pensei numa conversa que tinha tido com a mãe do Bruno.
Depois de mais duas confirmações de separação e de vida de casal como dois irmãos, ela disse que tinha falecido a bisavó paterna do Bruno.
Contou-me que tinha chorado muito e que as colegas a criticaram duramente "uma médica a chorar por uma bisavó paterna que já tinha 98 anos?"
Percebi a desilusão dela e falámos em sintonia.
Hoje parece que fica mal chorar. No emprego, pode ser um emprego que fica em causa. De uma desilusão de amor....que horror!. Já não se usa. Mastiga e deita fora. Se falece alguém que nem é da nossa família, mas a quem queremos mais do que os da nossa própria família....não é de bem! "Controla-te" dizem-nos, "estás toda vermelha, antes assim do que ter ficado estropiada".
Até com as minhas filhas, engoli lágrimas com dificuldade e muito esforço. Fiz bem. A noite e o carro sempre foram os meus locais de culto.
Mas agora que são mais crescidas, no outro dia foi mesmo à frente da mais velha. "Ò mãe!". Ó filha comovi-me! Isso é condenável? É até por uma coisa bonita! Isso é condenável?
Deixem-nos chorar. Somos gente. Com sentimentos. Não somos criaturas robotizadas, programadas, eficientes, rotinizadas, laváveis, inquebráveis, sem barulho e com garantia de durabilidade.
E lá por ter 98 anos? E então? Onde está o respeito , a conseideração , o tributo a quem foi bom para nós? Também não se podem contar histórias dessa pessoa. É tétrico.
E pode pegar-se. É peçonha.
"Então tudo bem?"
"Tá, tudo bem!".
A Madalena, a mais nova também ainda me deu um "chá" de boas maneiras. "Ó mãe tu dizes obrigada ou obrigado?. "
_"Acho que se deve dizer obrigada se se for mulher mas eu uso os dois conforme me sai."
-"Ai, eu para os amigos é thank's".
Depois disto, ralada, porque o meu gato está doente e não lhe vejo melhoras, pensei numa conversa que tinha tido com a mãe do Bruno.
Depois de mais duas confirmações de separação e de vida de casal como dois irmãos, ela disse que tinha falecido a bisavó paterna do Bruno.
Contou-me que tinha chorado muito e que as colegas a criticaram duramente "uma médica a chorar por uma bisavó paterna que já tinha 98 anos?"
Percebi a desilusão dela e falámos em sintonia.
Hoje parece que fica mal chorar. No emprego, pode ser um emprego que fica em causa. De uma desilusão de amor....que horror!. Já não se usa. Mastiga e deita fora. Se falece alguém que nem é da nossa família, mas a quem queremos mais do que os da nossa própria família....não é de bem! "Controla-te" dizem-nos, "estás toda vermelha, antes assim do que ter ficado estropiada".
Até com as minhas filhas, engoli lágrimas com dificuldade e muito esforço. Fiz bem. A noite e o carro sempre foram os meus locais de culto.
Mas agora que são mais crescidas, no outro dia foi mesmo à frente da mais velha. "Ò mãe!". Ó filha comovi-me! Isso é condenável? É até por uma coisa bonita! Isso é condenável?
Deixem-nos chorar. Somos gente. Com sentimentos. Não somos criaturas robotizadas, programadas, eficientes, rotinizadas, laváveis, inquebráveis, sem barulho e com garantia de durabilidade.
E lá por ter 98 anos? E então? Onde está o respeito , a conseideração , o tributo a quem foi bom para nós? Também não se podem contar histórias dessa pessoa. É tétrico.
E pode pegar-se. É peçonha.
"Então tudo bem?"
"Tá, tudo bem!".
Instruções para Subir uma Escada : 1/Dez/2008
"Ninguém terá deixado de observar que frequentemente o chão se dobra de tal maneira que uma parte sobe em ângulo reto com o plano do chão, e logo a parte seguinte se coloca paralela a esse plano, para dar passagem a uma nova perpendicular, comportamento que se repete em espiral ou em linha quebrada até alturas extremamente variáveis. Abaixando-se e pondo a mão esquerda numa das partes verticais, e a direita na horizontal correspondente, fica-se na posse momentânea de um degrau ou escalão. Cada um desses degraus, formados, como se vê, por dois elementos, situa-se um pouco mais acima e mais adiante do anterior, princípio que dá sentido à escada, já que qualquer outra combinação produziria formas talvez mais bonitas ou pitorescas, mas incapazes de transportar as pessoas do térreo ao primeiro andar.
As escadas se sobem de frente, pois de costas ou de lado tornam-se particularmente incômodas. A atitude natural consiste em manter-se em pé, os braços dependurados sem esforço, a cabeça erguida, embora não tanto que os olhos deixem de ver os degraus imediatamente superiores ao que se está pisando, a respiração lenta e regular. Para subir uma escada começa-se por levantar aquela parte do corpo situada embaixo à direita, quase sempre envolvida em couro ou camurça, e que salvo algumas exceções cabe exatamente no degrau. Colocando no primeiro degrau essa parte, que para simplificar chamaremos de pé, recolhe-se a parte correspondente do lado esquerdo (também chamada pé, mas que não se deve confundir com o pé já mencionado), e levando-se à altura do pé faz-se que ela continue até colocá-la no segundo degrau, com o que neste descansará o pé, e no primeiro descansará o pé. (Os primeiros degraus são os mais difíceis, até se adquirir a coordenação necessária. A coincidência de nomes entre o pé e o pé torna difícil a explicação. Deve-se ter um cuidado especial em não levantar ao mesmo tempo o pé e o pé).
Chegando dessa maneira ao segundo degrau, será suficiente repetir alternadamente os movimentos até chegar ao fim da escada. Pode-se sair dela com facilidade, com um ligeiro golpe de calcanhar que a fixa em seu lugar, do qual não se moverá até o momento da descida."
"Madalena Lourenço"
Partiu, sem se poder despedir, em 13 de Novembro de 2009. Com 21 anos.
Gostava dela sem a ter visto. Quando passava pelas papelarias ou sítios que tinham coisas sobre arquitectura, lembrava-me sempre dela. Vi algumas das suas fantásticas maquetes.
"Ninguém terá deixado de observar que frequentemente o chão se dobra de tal maneira que uma parte sobe em ângulo reto com o plano do chão, e logo a parte seguinte se coloca paralela a esse plano, para dar passagem a uma nova perpendicular, comportamento que se repete em espiral ou em linha quebrada até alturas extremamente variáveis. Abaixando-se e pondo a mão esquerda numa das partes verticais, e a direita na horizontal correspondente, fica-se na posse momentânea de um degrau ou escalão. Cada um desses degraus, formados, como se vê, por dois elementos, situa-se um pouco mais acima e mais adiante do anterior, princípio que dá sentido à escada, já que qualquer outra combinação produziria formas talvez mais bonitas ou pitorescas, mas incapazes de transportar as pessoas do térreo ao primeiro andar.
As escadas se sobem de frente, pois de costas ou de lado tornam-se particularmente incômodas. A atitude natural consiste em manter-se em pé, os braços dependurados sem esforço, a cabeça erguida, embora não tanto que os olhos deixem de ver os degraus imediatamente superiores ao que se está pisando, a respiração lenta e regular. Para subir uma escada começa-se por levantar aquela parte do corpo situada embaixo à direita, quase sempre envolvida em couro ou camurça, e que salvo algumas exceções cabe exatamente no degrau. Colocando no primeiro degrau essa parte, que para simplificar chamaremos de pé, recolhe-se a parte correspondente do lado esquerdo (também chamada pé, mas que não se deve confundir com o pé já mencionado), e levando-se à altura do pé faz-se que ela continue até colocá-la no segundo degrau, com o que neste descansará o pé, e no primeiro descansará o pé. (Os primeiros degraus são os mais difíceis, até se adquirir a coordenação necessária. A coincidência de nomes entre o pé e o pé torna difícil a explicação. Deve-se ter um cuidado especial em não levantar ao mesmo tempo o pé e o pé).
Chegando dessa maneira ao segundo degrau, será suficiente repetir alternadamente os movimentos até chegar ao fim da escada. Pode-se sair dela com facilidade, com um ligeiro golpe de calcanhar que a fixa em seu lugar, do qual não se moverá até o momento da descida."
"Madalena Lourenço"
Partiu, sem se poder despedir, em 13 de Novembro de 2009. Com 21 anos.
Gostava dela sem a ter visto. Quando passava pelas papelarias ou sítios que tinham coisas sobre arquitectura, lembrava-me sempre dela. Vi algumas das suas fantásticas maquetes.
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