Hoje dou por mim a imaginar como conseguia dar dinheiro sózinho para atodos nós. Nenhum trabalhava, todos estudámos, como é que um homem só, conseguiu dar conta do recado? Os médicos, as operações, as roupas, a comida, os transportes, tanta coisa. Hoje entendo muito bem.
Porque foram raras as férias. Porque herdei tanta coisa dos meus irmãos. Porque não houve o chamado, actividades extracurriculares, embora as mais velhas ainda tivessem tido, ténis, natação e ballet. O Zé ainda teve os escuteiros e uma moto e eu ainda tive as guias.
Percebo , julgo eu , a vesícula que não funcionava aos fins de semana. Não era agradável, havia sempre gritos e tensão. Mas, pondo-me agora no seu lugar aqueles dois dias deviam parecer-lhe um desperdício face ao que tinha que ganhar.
Ainda foram os livros de Medicina, as cadieras ergonómicas, os auscultadores para as mais velhas. Os mais novos eram mais humildes. Mesmo assim, ainda me pergunto como foi possível.
Não recebíamos quase ninguém em casa , era certo. Os pais nada gastavam consigo. Nada. Era a pouca roupa que vestiam, sempre estimada e, nem idas ao cinema , nem nada.
Mas, ainda me lembro que quase todos os fins de semana tínhamos um passeio saloio, até de carro quando o comprou e, almoçavamos fora, sobretudo no Inatel ou no Matadi. Íamos à missa, tínhamos modista. E o Pai guiava tão bem.
Mesmo assim pergunto-me , como dava?
Comíamos bifes, pescada fresca e fruta e tudo do melhor.
Como dava?
Só com muitos empregos, com serviço de 8 anos feitos em África, o que permitiu aqduirir uma vivenda e pagá-la a pronto, muitas viagens a estaleiros no estrangeiro, viagens presidencias. Mais o emprego de professor na escola Naval. Mais o de consultor na Insulana. E ainda pertencer à Marinha de guerra. Também tínhamos a mercearia e roupa da Manutenção Militar.
A casa foi degradando-se porque não havia dinheiro para mantê-la. Nós só tivemos que estudar.
O que é certo é que, naquela época, o pai teve que ser um homem extraordinário. E é.
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