quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Amigo

É bom gostar, amar e ser útil para alguém. Quando se é boa pessoa é isto que nos prende à vida. Mas, se um dia, em que ninguém suspeita sequer o estado de alma em que estamos, temos um telefonema de um amigo que se lembra e se importa connosco e nos diz coisas amáveis e engraçadas.....tudo faz sentido.
Ou seja, ser amado também é bom, e agarra-nos à vida. É preciso saber receber também. Tão importante quanto dar.
Adoro-te.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O Natal

AHHH. Que bom é o Natal. Dantes eram os gritos constantes dos pais, os amuos da mãe porque os presentes que lhe tinham dado não lhe tinham feito jus.
Hoje com as separações e divórcios, como é que raio vou passar o Natal sem as minhas filhas?
Batatas. É que não tem piadinha nenhuma.
Lá vou eu para casa dos meus pais, sempre alerta para ver quando é que a minha irmã que sofre de perturbações mentais de repente "salta" para algum dos presentes, injuriando , ofendendo de uma forma massacrante. Ou seja, não ouve e, não se cala.
Bom , eu vou. Como, e saio de fininho. Vou para a minha casinha, faço o cabritinho no forno, com o arroz de míudos a condizer e ponho a linda mesa a cintilar, para o almoço do dia seguinte.
Abro o calor, agarro no gato, ponho um filme, fumo um cigarro e tomo um wisky.
Gostava era de dormir com o meu amado e no dia seguinte continuar com ele.

Mas, o Natal é bom. Sobretudo, porque posso comprar finalmente as máquinas de lavar roupa e loiça e um micro ondas. Os que tenho hoje já têm pelo menos 25 anos. E depois...tiram-se férias. FÉEERIIIIASSSSSS. E, verdade seja dita, vê-se ainda o rosto de surpresa e alegria das crianças a abrir os presentes.
E pronto.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

É a única coisa antinatura

De facto é. Há nome para viúvo, orfão, mas não há palavra em português para designar um pai que perdeu um filho.
Eu no meio do desgosto percebi quanto gostava do pai.
Mas o que já não era, não é agora pelo desgosto, que vai ser.
Dantes não havia compromisso, e vergonha em apresentar aos filhos. Hoje, que a filha infelizmente partiu, já não tem importância eu conhecer a família. Não me foi apresentada . Apresentámo-nos uns aos outros. Em solidariedade. Porque uma coisa nos unia- gostarmos do pai. E também da mãe.
Mas as decisões que se tomam quando se perde um filho, podem a nós parecer bem ou mal. Está errado. Não temos que achar nada. Nunca perdemos um filho. Sabemos nós lá que decisões se devem tomar.
Ele decidiu perder a sua liberdade, juntar-se à mãe da filha, na casa da filha.
Só assim porventura fará sentido a vida. Ajudar e estar sempre ao pé da mãe da sua filha. Não éxistem dois seres que melhor entendem a dor que sentem. E que melhor recordem a filha.
Eu, estou de pés e mãos atadas. Não posso falar.
E vou ter de ir saindo agora. De mansinho. Só se alguém me chamar.
Mas não creio. A dor não diminui com o tempo, volta , de uma forma excruciante, quando quer. Sempre. Toda a vida. Se eu puder minimizar essa dor, já me dou por feliz. É o que ele faz pela mãe da filha, sua ex mulher.
Porque gosta dela.
Como eu dele.

Sei que não sou sua prioridade. Mas também descobri que ele está no mesmo lado da lista que eu . Ele nunca foi uma prioridade sua. Sempre viveu, sem viver a sua própria vida, sempre em função de alguém , que sabia não podia viver sem ele, precisava dele. Só assim faz sentido. É estrutural. A liberdade que tinha não faz sentido.
Quer agora que tudo seja vivido à frente da mãe da filha.
Como antes foi à frente do pai. Que precisava dele para ter vontade de viver.
Como ontem a sua filha e a mãe da sua filha.
Como hoje a mãe da sua filha.
Como sempre.
Mas, na verdade, choro, não porque perdi, aquilo que nunca foi meu, mas porque sei que a dor que o rasga é tão mortífera, que só me apetece abraça-lo, amá-lo, aquecê-lo, mimá-lo. Como ele o quer fazer à mãe da filha.
Assim seja. Prometi no entanto à filha deles, junto à caixa onde alta onde a colocaramem, que tudo faria para que os pais dela tivesem vontade de viver.
Assim o farei, querida rapariga, que nunca tive o prazer de conhecer, mas que mais de mil vezes imaginei.