segunda-feira, 5 de março de 2012

A adolescência e os seus problemas





Estive a ler o livro do Pedro Strecht sobre a adolescência. O Vontade de Ser.



Cheguei a uma conclusão e a uma dúvida e a uma angustia.




A conclusão é que tudo o que li é bastante importante, ajuda muito, orienta, mas, quem lê e procura e gosta, já é um pai ou mãe preocupado e consciente e que não foge dos problemas e, que gosta verdadeiramente dos filhos e , por isso , quem lê já é à partida um bom pai ou uma boa mãe. Claro, podemos ajudar quem estiver à nossa beira, mas, em princípio é sempre para os nossos filhos.


Porque a mensagem de fundo é sempre, dar amor e afecto aos nossos filhos, ajudá-los, ouvi-los, passar tempo com eles.


Mas como se vai ensinar a um pai ou mãe que não deu amor, nem sabe sequer dar amor, porque se calhar também nunca recebeu, nem sequer sabe como é, como se vai ensinar a dar amor?


Isso não sei como é. Primeiro ter-se-iam de tratar os pais. Daí a minha ideia de que se deveria ter psicanálise nas escolas, tal como outra disciplina.






Depois a dúvida. Que o abaixamento do rendimento escolar é indício de muita coisa. Depressão, falta de atenção e de afecto ao jovem, problemas de abuso que vêm à tona. Essencialmente isto.


Mas , e eu? Eu sempre fui deprimida desde que nasci , até que me curei , e, fui sempre uma excelente aluna. Eu chamaria a atenção ao Dr Pedro Strecht para estes casos. Dos miúdos mágicos. Mostram boa disposição, são excelentes alunos e por dentro sentem-se um trapo. Não contam nada do que se passa em casa, pois assim foram instruídos. O que lhes resta? Idealizar e procurar incessantemente satisfazer os pais. Se eles gostam e valorizam pessoas com boas notas, aqui vou eu! E , o estudo foi tão meu amigo. Enquanto me concentrava naquela tarefa interminável, sentia-me ocupada e feliz com um objectivo : tirar boas notas. No entanto notei triste que isso não fazia com que os meus pais se dessem bem, nem com que a minha mãe não fosse uma eterna vítima, nem os professores a gostarem de mim, tanto como de outros miúdos, porque eu mantinha sempre uma distância deles. Não falar com adultos. A mãe fala por si. Foi assim que me ensinaram.


Os professores têm nalguma dia da nossa vida uma importância extraordinária.


Tive frases de professores que me marcaram muito positivamente, que apesar de eu ser fechada, embora fosse pantomineira, sabiam que estava ali um bom potencial. Agradeço-lhes do fundo do coração.


E, enquanto estudava, naquele objectivo único e cego não pensava noutra coisa perniciosa e extremamente confusa e inquietante : o sexo.


Até que um dia , uma professora de ginástica me diz com uma enorme desfaçatez ao observar-me a fazer abdominais : "vais ter muita dificuldade em ter filhos!".


Que horror! que horror!


Fiquei transtornada. Filhos, homem, sexo, dar à luz, dor, sangue, ser mãe, tantas impossibilidades. Porque o exemplo que tinha era que só havia uma boa mãe no mundo ( era ela que dizia, as outras não prestavam ) , o sexo era horrivel ( era ela que dizia) e o sofrimento ao ter filhos é enorme ( era ela que dizia).


Nunca mais me recompus. Para além de estudar havia uma continuação e eu não sabia como enfrentá-la. Não me deu para anorexia nem suicídio, arranjei outra fantasia. Eu iria crescer e tomar conta dos meus pais.


Logo depois de casar, pensei suicidar-me, mas já estava a fazer psicanálise, pois já trabalhava e, consegui tratar-me. O Ter substituiu o Ser. Fiquei mais pobre mas renasci. É das forças mais poderosas, sentir amor e poder dá-lo.





A minha angustia: como posso ajudar esses milhares de seres "secos" de amor. Tristes, sós, muito sós. Temos responsabilidade nisso como cidadãos? O que posso fazer?















Vietnam




Ontem à espera das minhas filhas e a fazer tricot enquanto o gato morde os fios antes de chegarem às agulhas. Antes do ensaio do coro.


Largo tudo e fico estarrecida pregada à televisão.


A história do agente Laranja, um químico largado em milhares de litros para a desfolhagem da floresta do Vietnam do Norte. O objectivo era diminuir as baixas do lado dos Norte Americanos que atingia os 6% por dia. Depois de aplicarem o agente Laranja as baixas diminuiram em 1%.


E hoje, é ver o que aconteceu. Os soldados americanos adoeceram e as suas mulheres deram à luz crianças deficientes mentais.


No vietnam , claro ,o horror é muito maior. Pessoas com tronco mas sem braços e pernas formados até ao fim, deficientes mentais, cancros, abortos espontâneos, paralisisas, e um hospital actual de bébes, a cores, recentes, uns com uma cabeço gigantesca de água, outros com umas espécies de extremidades em barbatanas em vez de mãos e pés.



Depois de estar a ler um livro sobre o problemas dos adolescentes, depressões, dependências, suicídios, e delinquência.



Fiquei siderada. A guerra. O que se faz para diminuir as baixas. Que ironia. E o mais triste é que tornei a ficar mal impressionada com a América. De facto, temos que ser sinceros , foi pelo facto do filho de um dos maiores generais da guerra ter adoecido com cancro pouco tempo depois e , pelo facto de o mesmo ter tido dois netos deficientes, que o tornou mais "compreensivo" em relação ao que por lá fizeram.



E os pobres soldados americanos vêm doidos depois daquela mortandade. Para quê?



Pensei. Em vez das viagens culturais às principais capitais europeias, os nossos filhos deviam de ir visitar o museu do Holocausto, o Vietnam, Hiroshima e Chernobyl. É conhecimento e saber para serem homens e mulheres melhores no futuro. Menos preocupados com o "ter".



E claro outras viagens mais agradáveis também. É no equilíbrio mais pendente para as coisas positivas que reside o estado de felicidade.