quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Anuxa

A Ana morreu.
Tenho pena de não me ter despedido dela. Mas que poderíamos dizer uma à outra? Ela não me ia confiar os seus filhos. Isso sei que era a sua única preocupação. Deixá-los tão cedo. E a precisarem tanto dela.
O pai é boa pessoa, como sempre se diz nestas coisas, mas penso que era alcóolico. E isso é terrível. Mas é melhor do que não terem pai.
A Ana sei que me diria,Nita, aproveita avida e não ligues a coisitas mesquinhas que não valem nada. Deita-as para trás das costas.
Acho que foi em minha casa que estivemos juntas pela última vez. Ainda saímos algumas vezes, jantámos , muitas amigas juntas, rimos. Ela tinha já o destino marcado na cara.
Dei-lhe algumas vezes boleia até perto de IPO. Ela ia o restante a pé. Sózinha. Para os tratamentos. E ela era casada. Tinha 4 filhos. Cinco irmãos. Pais vivos. fora os cunhados e cunhadas. E amigos. Serão sempre estes .....???
Há coisas que não entendo.
Mas lembro-me bem da Ana. Um bocado revoltada. O patinho feio da família. Ela era bonita. Mas nada do que fazia suscitava elogios. Lembro-me dela nas Guias. Um dia disse-me o que ainda ninguém mem tinha dito : que eu tinha uma boca e um sorriso lindos e que ela gostava de os ter. Ainda nos rimos muito as duas. E, quando ela cresceu e começou a namorar o Rodrigo, um borracho por sinal e, andava de sapatos altos e malinha chanel a tiracolo durante o acampamento. Não fosse ele vistá-la. E foi. E, um dia lá vinha ela com um pensinho higiénico na mão até à fogueira para o queimar. Ah, muito nos ríamos. Esse acampamento foi memorável a vê-la de malinha a cortar lenha. Acho que foi no Linhó. De todas nós que me lembro das guias, ela é a primeira a falecer. Fica em paz Ana. Os teus filhos vãos ser felizes. Se pelo menos forem bons irmãos , eles vão conseguir, juntos.
Talvez a grande mudança que se opera nesta nossa geração é que criamos os nossos filhos de forma a que são muito bons irmãos, unidos. Os pais que eles vêem são de confiar mas em separado individualmente não como um par.
Mesmo assim , tenho esperanças.
Também soube de outra amiga com a minha idade, menos um ano ou dois, com cancro. Esta não fuma. Porquê? Porque é que "apanhou" cancro? Não sei. São muitos anos de nervos , de ansiedade, de stress , de medos? É a alimentação? Hereditário? Esta espero que ganhe a batalha.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A guerra no Ultramar

Foi no fim de semana que tive que pousar o tabuleiro da comida , enroscar-me e no puff e já estava tão agoniada que tive que mudar de canal. Estavam a dar filmagens da guerra em Angola. Quase à nossa frente e quase em simultâneo os homens eram abatidos mas , mais frequentemente rebentados com minas. Os estilhaços deixaram-nos cegos, a outros incapacitados , a outros deficientes mentais. Outros viu-se práticamente em directo a ficarem sem pernas e braços, a berrarem e a pedirem para os matarem ali já, porque não queriam regressar assim para a família. E lá faziam uma pequenissíma tenda no meio do mato com um oleado em cima dos ramos de uma arbusto, enquanto os que estavam bem, salpicados de sangue cerravam a boca de raiva e medo e tinham que ouvir , presenciar o sofrimento do colega ali debaixo da tendinha. Depois davam depoimentos de homens que tinham combatido na guerra. Alguns, hoje, ainda choravam a recordar.
E eu lembrei-me de como ia crescendo com medo de perder o meu irmão, que o meu pai já estava safo, falava-se em ele ir para França, a minha mãe disse-lhe para se dar como objector de consciência pois não tinham dinheiro e, parece que seria isso que ia prevalecer. Um primo, o Vitor, um homem lindo, tinha perdido uma perna e um olho. Lembro-me vagamente quando ainda não fora de perigo tinha chegado de helicóptero ao hospital militar em Lisboa.
No Natal, eu não despegava da televisão a ver todos aqueles rapazes a dizerem uma mensagem às famílias. Não percebia bem aquele dramatismo mas ao chegar aos 12 anos, comecei a perceber que aquilo era a sério, mas não sabia mais nada.
Até que se deu o 25 de Abril.
Digam o que disserem do 25 de Abril, foi de facto uma das melhores coisas que aconteceu em Portugal.

Meu rico filho, criado para morrer, para matar, para sobreviver com aquelas lembranças.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

cordon bleue

é assim:
bifes do lombo de porco fininhos. uma fatia de fiambre e uma fatia de queijo entre os dois. Um palito a uni-los num extremo e outro no outro extremo. Passa-se por gema de ovo batida e depois por pão ralado. frita-se em pouco óleo becel de um lado e outro . No fim qd estão em cima de papel absorvente pôe-se uns grãos de sal.
Acompanhamento. Um montinho de arroz, MUITA salada daquela já lavada com tomate cherry inteiro piquinino e, três boas rodelas de laranja.
Repetir.

agora....já imaginaram com roquefort, queijo da ilha, queijo de cabra, queijo da serra?