terça-feira, 24 de agosto de 2010

Passou

Pronto, scsssshhhhh, já passou. Está tudo bem. Ouvi a voz da minha filha mais velha e tudo vale a pena.

Há agora um mail - já antigo, tem cerca de um ano - regressado, que faz a ironia entre o tempo de antigamente, das mulheres que esperavam carinhosamente pelos maridos à noite, não trabalhavam fora de casa e podiam cuidar delas e da casa e familía.
E, mais ou menos termina com isto : se não fossem as mulheres quererem a igualdade, nada disto tinha acontecido, os divórcios, o trabalho, as correrias, a cama vazia.

Lembrei-me porque estudei. Os meus pais eram a favor. A minha mãe tinha uma grande mágoa de não ter estudado mais. No entanto o meu pai ( tal como mais tarde o meu irmão) fez questão que a minha mãe abandonasse o Banco onde trabalhava, assim que casaram.

Bom, as mulheres começaram a estudar. E, depois claro a quererem aplicar o que sabiam. A quererem contribuir para o progresso e engrandecimento do país.

Mas, na minha esquizofrenia, ( por acaso não tenho ) vejo ao longe uns homens que construíam casas. Os construtores civis. Começaram a fazer contas de cabeça.......Et voilá. Fizeram-nas bem . Não há dúvida, hoje só com os dois a trabalhar se consegue uma casinha. E esta crise? Será mesmo do Petróleo? Só ? Naaaa. É também do negócio das casas, uma obscenidade o custo de aquisição de um bem essencial para a dignidade humana. E alugar? Por mim estaria muito bem!!!! Mas não há casas para alugar.

Impasse

Hoje estou danada. As coisa não correm como eu quero. São as calças que estão apertadas. Engordei e já não estou com muito bom aspecto. Ginástica? Nutrição? As duas. Dinheiro. Não tenho. Quero um PC, um Ipod, uns sofás, uns canos novos debaixo do lava loiças , uma torneira posta.

Não estou bem com a minha filha. Não me trata bem , com carinho e atenção. Sinto-me às vezes que ela me trata como a sua secretária particular. Detesto. Enraivecida apetece-me afastar.
Mas sinto tanto a falta delas. Como se não me apetecesse fazer nada. Não tenho vontade de fazer nada. Só ir limpando afanadamente e depois ir deixar-me cair numa cadeira, sofá, cama.

Há três meses disse a uma colega minha de quem gosto muito. Estás mais magra. Hoje sei que tem cancro. Merda. Merda. Quem fuma assim já sabe que é inevitável. Então porque fumam?
Eu sei , é uma muleta. Eu uso outras. Tomo comprimidos. Parece-me melhor, do que inalar fumo durante uma vida, para um orgão nobre como são os pulmões, em vez de ar puro.
Estou cheia de raiva.

Por outro lado sinto-me feliz. Feliz porque me têm amado, dado atenção, carinho, alegria. E eu também amo. E quero-o muito. Mais do que alguém pode imaginar.
Mas está tudo errado. Porque de facto tenho sido uma cega. Agora, tenho visto, pelas filhas, como as minhas também sofreram e sofrem com o divórcio. Estou furiosa comigo. Como pude pensar, estupidamente, que elas estão na maior, e que já reagem bem. Vão sempre sofrer. Hoje não consigo ver as vantagens. Sei que há. Mas hoje não consigo. E depois, verem os pais a beijarem e a acarinharem outra ou outro.....é tão mau. Tão embaraçoso. Como quando vemos os amigos beijarem-se na boca. Parece sempre que estamos ali a mais. Ou, que sem nós, estariam bem concerteza.

Mas, voltando às filhas, tenho sido permissiva. Um mau exemplo. Hoje não saio daqui.
Vou começar por uma coisa aparentemente fútil.
Vou emagrecer.

Porque eu não vou conseguir nunca melhorar o sofrimento delas, porque elas têm uns pais que não se falam. Não dirigem a palavra. Não falam ao telefone.
Por isso é que eu o odeio muitas vezes. Quando lhe envio mensagens e não tenho qualquer resposta. Choro, não é bem por mim, porque eu só sinto afastamento, dói-me é o que elas sentem , pois eu sei que elas sabem do comportamento dele. Podem pensar...eu adoro o meu pai, que fez a minha mãe de tão terrível que ele nem lhe fala?
Chamei-lhe um nome. Foi isso. Um nome.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Vestir o hábito.

O meu irmão arranjou emprego. Estou muito feliz.

A minha grande, grande grande grande amiga, dizia, pois dão-lhes o subsídio de desemprego e olha para isto, fiacam a mandriar um ror de tempo.

Ela é médica e difícilmente a despedirão. Ele era director de uma fábrica de uma multinacional e fácilmente o despediram.

Eu sei, pois, ele é meu irmão. Mas... ponho-me no lugar dele. Fora desse lugar, criticava-o, ele está a envelhecer a embrutecer, devia aceitar qualquer coisa, mesmo que paguem muito menos que interessa.....

Mas....ponho-me no lugar dele. Ele é uma pessoa. Tem a sua formação. O seu gosto. O seu sonho. Foi errado segui-lo? Mesmo que isso implicasse esperar um ano? Claro sempre com a consciência da sobrevivência económica dele e da família.
Quem é que pode dizer seja o que for do meu irmão?????

Não. Ele é um exemplo. A seguir. E, de facto , não se podem pôr as pessoas todas dentro de um mesmo saco, como se fossem um grupo rotulado, classificado, identificado. Como maçãs. Ou amostras de sangue infectado. Porque são pessoas.

Há outros que são preguiçosos e vivem à custa do subsídio de desemprego? Há. E isso justifica , retirar o subsídio ou, atacar quem o recebe? Não.
Ora, sejam sinceros, vejam à vossa volta, mesmo em casa, na família, nos amigos, há tanta gente que conhecemos que vivem à custa dos pais ou dos conjuges ou de alguém, e que não fazem nada.

Também me questionei outra vez sobre o referendo do aborto. Eu sou totalmente a favor da legalização do aborto. Mas, como explicar àqueles de quem gosto, o porquê?. E, de facto, o que eles defendem também concordo. Mas, não deixo de ser a favor da legalização do aborto. Em Portugal, claro pois sou portuguesa e apesar de já não ter direito ao meu escudo, ainda vivo numa nação típicamente portuguesa.
Como o decidi?
Pus-me no lugar das mulheres que querem fazer abortos. Revi aquelas que levam porrada se o marido descobre que estão a tomar a pílula. Daquelas que estoiradas ou etilizadas se esquecem de tomar a pílula. Daquelas que claro , gostam e querem ter sexo, mas , já têm filhos que chegue e querem é criar como deve ser os que já cá estão e são uma realidade.

Não falei nos homens. Não consigo. Lá está. Aqui , não consigo pôr-me na pele deles. Dou-lhes tanta atenção como eles dão a uma mulher que no grupo deles está a falar de futebol.
Só daqueles que fazem parte de casais que tentam desesperadamente ter um filho e, por motivos de falta de fertilidade, consideram a concepcção, um milagre.

Lembro ainda restos da conversa, " a questão é, a mulher por abortar deve ser ou não presa? , esta é que é a questão. mas ora, nós sabemos que nenhuma era presa, por isso isto nem é questão".
É verdade, não sei de mulheres que tivessem sido presas. Iam ao estranjeiro, a enfermeiras conhecidas, a vizinhas, a conhecidas apenas, auto abortavam e, de facto, não eram presas. As que faleceram, essas então não foram presas concerteza. Aquelas que estavam grávidas e que levaram um pontapé nas costas e cairam pelas escadas abaixo, dessas também não sei.

A cauda do cometa

Os casamentos nunca acabam, dizem.

No meu caso ainda perdura muito em sonhos.

Dizem , que os sonhos são , na maioria dos casos, vivências que tivemos e que são finalmente " aceites" pelo nosso imo.
Ou que projectamos.
Uns que tive em grávida eram horríveis, de tão reais que pareciam.
Uns que tive em pequena eram horríveis, de tão verdadeiros, fruto da relação com o meu pai, mãe e irmãos.

E ontem, "despedi-me" de algumas coisas que perdi com o divórcio.
Revi os meus grandes amigos, com quem tive saídas regulares muito divertidas e que incluiram festas, viagens, jantares, estudo. Casámo-nos quase ao mesmo tempo e tivemos os nossos filhos quase ao mesmo tempo. Fomos uma grande família.
Ontem, então, ia num barco tipo iate, bem grande, um amigo meu anda de bicicleta na água com o filho mais velho e depois foram recolhidos no barco. A minha amiga Cris, tocava piano de uma forma virtuosa e quanto mais enérgicamente tocava, mais depressa andava o barco. Não estava tranquila e senti-me sózinha, pois apesar de tolerarem a minha presença, senti um elo mais profundo entre eles do que comigo e eles.

Mas, a vida é formidável. E uma coisita, chamada facebook, levou a rever-nos ( almoço de curso), a voltarmos a enviar mensagens pelo telemóvel nestas férias e, a escrevermos uns aos outros.
Há laços que nunca se desapertam, podem ficar mais velhos ou lassos , mas , lá estão.
Sobrevivem aos divórcios, às separações, e isso fez-me acordar feliz.

Namorar

A minha filhinha mais nova às vezes está deprimida. Sentadas na pia e no bidé , com a porta da casa de banho fechada, é quando muitas vezes temos conversas grandes, até nos sentirmos consoladas.
Claro, estou cheia de saudades delas, que estão com o pai. A Susana noto, que já está mais natural e espontânea quando fala comigo ao telefone e estão o pai e a madrasta a ouvir. A Madalena ainda tem muito receio de nos pôr zangados, um com o outro , com alguma frase que ela possa proferir. Pudera eu milagrosamente e instântaneamente retirar-lhe todas estas angustias. Mas , pelo que sei, vai levar o seu tempo.

Antes de partir ela disse, "vê lá mãe não arranjes mais namorados, já chega".

É a avó , minha mãe, que lhe transmite de forma pungente/abnegada esta noção de que a mãe é boa, mas...uma perdida.

Eu expliquei-lhe. Minha querida, a mãe não quer casar e ter filhos, quer um companheiro, um amigo, um amante, um homem que goste dela e de quem eu goste. Ora , filha, só namorando é que vou saber!

Senão, seriam os nossos pais a escolher os nossos companheiros e não haveria este risco e expectativa de enamoramento.
Mas o enamoramento é formidável. Estamos felizes, felizes, e essa felicidade espalha-se e motiva e ajuda ao encontro de soluções para problemas.

E ela, a minha querida filha foi apanhada encostada a um belo rapaz da sua idade, 9 anos, com as carinhas juntas a jogarem a Nintendo. Eu e a irmã, entreolhámo-nos e sorrimos, de dentes à mostra, uma à outra, encantadas com um quadro tão meigo.
Também a Su já experimentou a cor, o sabor, a força, o voar do amor. A razão de tudo.